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Cooperação justa internacional, metas de sustentabilidade e o que tudo isso tem a ver com equidade.

O ano passado expôs a instabilidade dos artistas globalmente, e com o passar do tempo, observamos que alguns países criaram ferramentas e recursos descartados para ajudar artistas das artes cenicas que foram proibidos ou negados ao trabalho por mais de um ano. Isso foi urgente e só podemos ser gratos por isso. É importante, porém, não perder de nossa vista a dramática condição dos artistas do Sul Global, e a situação de emergência a que eles estão expostos. 

De certa forma, a distribuição de vacinas reflete o desequilíbrio do  setor artístico internacional – os países ricos usam seus recursos para atender sua população primeiro – embora muitas vezes um custo pandêmico mais alto seja pago do outro lado do planeta. Quem será vacinado depende da riqueza do país em que vivemos. Os números globais de imunização vêm refletindo uma grande desigualdade há meses, e a situação permanece inalterada.

Mas a pandemia só vai acabar quando acabar em todo o mundo.

Já há algum tempo discutimos o paradoxo do apoio institucional às viagens internacionais para artistas (fundos de mobilidade). Por um lado, é uma ferramenta fantástica para os artistas construirem efetivamente uma carreira internacional, e a maioria dos festivais não seria capaz de apresentar um programa internacional sem ajuda financeira para viagens. Por outro lado, devemos reconhecer que nunca alcançaremos a diversidade que prometemos trabalhar, se não compartilharmos esses mesmos fundos de mobilidade para que eles sejam acessíveis a todos.

Enquanto buscamos o novo normal, tentando remodelar o futuro após esse trauma coletivo, é importante conversar honestamente e estar aberto a novas ideias. Atualmente,estão surgindo ideias em busca a uma maior solidariedade internacional. Alguns exemplos me dão uma grande esperança. Por exemplo, a RESHAPE NETWORK – um processo de pesquisa colaborativo bottom-up que propõe instruments para transição para um ecossistema de artes alternativos, mais justos e unificados em toda a Europa e no Mediterrâneo Sul. Uma das ideias é a proposta de um Imposto Solidário de Doreen Toutikian, uma ideia provocativa sobre a dinâmica do poder em projetos culturais, controle criativo, diversidade e elegibilidade.

O Festival TEATRO DE WELT, traz à vida um FÓRUM DE EQUIDADE PARA COOPERAÇÕES INTERNACIONAIS. Convidados internacionais do Sul Global se juntarão para discutir Equidade, Sustentabilidade e Cooperação Justa. Entre outras perguntas; como os recursos artísticos, humanos e financeiros podem ser compartilhados, especialmente em tempos pandêmicos?

Dentro da Europa há também o PERFORM EUROPE, um projeto financiado pela UE que visa repensar a apresentação de artes cênicas transfronteiriços de forma mais inclusiva, sustentável e equilibrada. Trata-se de uma ação em reação a um historico desequilíbrio de representação entre os modelos de turnês financiados pela Creative Europe.

Se pudermos reconhecer nosso privilégio econômico, o próximo passo será natural. A consideração da ética nos levará a um futuro de solidariedade, compartilhamento de recursos, pavimentação do caminho, fazendo planos com otimismo para uma colaboração internacional mais justa.

Não é nada menos que uma revolução, e só podemos lucrar com isso.

Hürth, junho de 2021